Luma Elora Aislin

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Sabá de Ostara

quinta-feira, 16 de julho de 2009

História de Bruxa.


AMBROSIA...
Descendo lentamente a rua, vinha Ambrósia... apoiada em um "cajado" que era um galho de uma velha árvore de seu quintal. Tinha caído em uma das ventanias e ela se apoderou dele alegre em ver que era bonito. Meio torto, mas bem apropriado para que ela se apoiasse nele, já que suas pernas já estavam fracas.
Ambrósia vem descendo a rua se apoiando no cajado. Magra, sua pele negra cobrindo velhos músculos, agora já fracos, seus ossos finos e longos que faziam dela uma mulher alta. Seus olhos encovados, mas tremendamente brilhantes, ariscos, mais pareciam os olhos de uma coruja brilhando no escuro.
Ela descia a rua e as crianças iam gritando atrás dela: olha a velha bruxa, olha a velha bruxa...Ela era filha de escravos... quando criança, nasceu escrava... mas logo aconteceu a lei Áurea e sua mãe a levou embora para longe da escravidão.
Ambrósia aprendeu a fazer seu próprio fogão com barro e água, sua cerca com estacas de madeira, galhos velhos, sua cama, com lençóis brancos feitos de sacos... sua mãe a tinha ensinado, cozer os sacos, lavar ao sol até que ficassem brancos... sua mãe a tinha ensinado tanta coisa...
Ela era feliz com suas cabras que viviam no seu cercado, julgava-se rica, tinha leite, fazia seus pães no seu forno de barro... e todos da vizinhança sempre lhe davam mantimentos em troca de suas benzeduras.
Era pessoa importante na cidade, até o filho do prefeito vinha se benzer com Ambrósia... Umas ervas no seu caldeirão sempre em cima do fogão de lenha e ela fechava os olhos e ia falando umas palavras estranhas, suspirava, tossia, piscava, seus olhas ficavam brancos, virados, as crianças quase morriam de medo destas cenas, mas... enfim ela respirava fundo e dizia: seu mal já foi retirado em nome da terra, do fogo, da água e do ar... tome 3 goles e pode ir... e lá iam os goles de uma bebida nem sempre saborosa!As pessoas realmente se curavam com suas ervas, seus benzimentos. Enquanto benzia...
As cabras ora berravam, ora ficavam tão quietinhas que se pensava que nem estavam ali; ela conversava com as cabras quando faziam barulho, e me parecia que as cabras contavam para ela o que as pessoas tinham porque ela perguntava e a cabra dava um béééé... Era bom de se ver isto, tinha gente que ia lá só para ver ela conversar com as cabras... Cada uma tinha um nome e quando ela ia sair... Recomendava funções para cada uma...
Ambrósia certa vez ganhou uma casa de um homem que teve seu rim curado, mas não teve coragem de deixar seu "barraco" como ela o chamava... e depois, ela dizia: ... "E se as meninas não se acostumarem com a nova casa? É tão perto da cidade e elas não gostam de barulho. É melhor vosmecê dar esta casa para outra pessoa que tenha ambição... eu e as meninas não vamos aproveitar tanto luxo... mas mesmo assim, que seja abençoado".
Sentava em seu banco tosco ao pé do fogão esperando os bolinhos de amendoim e polvilho e "pitava" seu velho cachimbo com uma expressão de prazer e tranqüilidade.
Ali, serenamente eu esperava pelos bolinhos e ficava tentando decifrar aquela velha negra e seu cachimbo, às vezes vinha em minha mente os gritos de meus amigos... Bruxa, Bruxa, bruxa.... Ah não... Ela mais parecia uma mãe velha e sábia, me sentia totalmente protegida por esta velha... E ela gostava de mim, uma menina ruiva, xereta, que a perseguia por todo canto... Minha mãe já tinha falado a ela que me mandasse embora quando a amolasse... Mas quando eu chegava, ela dizia:... É você, menina? E eu às vezes via brilho nos olhos daquela velha me contando suas histórias, como foram valiosas para mim estas historias...
Ambrósia era uma bruxa? De que tradição... Ela seria... Ela era de fato uma bruxa... Absolutamente livre e profundamente feliz consigo mesma e com as pessoas.
Isto é bruxaria...

Um comentário:

Lotus disse...

Que linda história... Sim ela era uma bruxa,autentica,não precisava se prender a Tradições ou regras de fato ela era uma Bruxa.