Na pré-história (e claro bem depois) o mistério da gestação que envolvia a mulher era um fato que intrigava e incomodava sobremaneira os homens. Tal fato dava as fêmeas um predomínio sobre tudo e todos; tanto que o culto à deusa era comum em quase todas as localidades onde se fizeram descobertas arqueológicas. “ A mulher dá a vida e anuncia a morte; essa ambigüidade foi sentida ao longo dos séculos, e especialmente expressa pelo culto das deusas- mães. A terra mãe é o ventre nutridor, mas também o reino dos mortos sob o solo ou na água profunda. É o cálice de vida e de morte”.
A idade média é marcada essencialmente pelo machismo em substituição ao culto da Deusa. Passa a ter com o domínio da igreja católica a presença de um Deus que a meu ver tem como objetivo tomar conta da vida de todas as pessoas e é claro penalizar todas as mulheres. Afinal foi por elas e através delas que o homem foi expulso do paraíso : Eva.
E nos perguntamos: - vem a redenção? Claro Maria Santíssima aparece para resgatar o simbólico, o belo e o puro. Será? Tenho minhas dúvidas; em várias obras verifiquei que as aparições de Nossa Senhora se dá exatamente em grutas onde antes eram feitos e praticados os cultos às Deusas. É uma forma da igreja se apoderar de crenças já existentes para manipular e trazer para si estas mulheres.
Normalmente estas mulheres moravam sozinhas e tinham uma vida sexual que não condizia com a moral e o bom costume da época. Como normalmente eram responsáveis pelo seu próprio sustento podiam escolher ou pelo menos ter mais opção de com quem manteriam suas relações.
Uma bruxa sempre usa um chapéu. Qualquer cozinheira nos dias de hoje sabe que este é um pré requisito para higiene, sem contar que em determinadas épocas do ano o chapéu protege do sol escaldante que envelhece a pele, sobretudo das mulheres brancas.
Alguns animais fazem parte da vida diária destas mulheres: sapo, coruja e gato. (os outros insetos foram acrescentados a bel prazer para construir a imagem negativa que se tem até hoje), pois bem , onde tem esses animais não tem insetos e nem roedores, lembrando que ratos eram uma verdadeira peste e que de fato transmitiam muitas doenças, entre elas a peste bubônica que dizimou um terço da população européia, ou seja nestas casas não tinham vetores para transmissão destas doenças.
Todas as vezes que nos lembramos de bruxa, não nos esquecemos da vassoura. Alguns atribuem a ela um símbolo fálico, ou usada em rituais de colheitas. Eu penso que até nos dias de hoje todas as vezes que falamos de limpeza, automaticamente nos lembramos da vassoura, ou seja estas casas eram limpas, asseadas, e em casa limpa, não entra doenças porque são eliminados as fontes transmissoras. Bem, se todos estão adoecendo, menos os moradores desta casa, com certeza eles tem pacto com demônios, pois afinal de contas Deus mandou a peste para todos e se exatamente estes não a tem realmente é motivo de desconfiança.
Finalmente temos o caldeirão. Símbolo mágico, instrumento que não pode faltar em cozinha de nenhuma parte do mundo. A cozinha é um lugar sagrado da transmutação máxima dos alimentos. Um alimento bem feito (numa época em que as pessoas morriam de inanição) salva uma vida; em contrapartida um alimento estragado, deteriorado, mata (uma infecção intestinal neste período é fatal).
Conhecedora destes atributos cabia ás instituições de poder alterar estas informações de tal forma que quando chegassem ao público, estivessem completamente distorcidas.
É por isso que quando pegavam uma mulher - geralmente bonita e magra ( o padrão de beleza na idade média eram as mulheres gordas – sinal de que eram bem alimentadas e mais preparadas para gerar e parir os filhos) começavam com torturas que visavam modificar sua aparência física. Ao colocar uma mulher nua procuravam por todo o seu corpo marcas do demônio: pintas, manchas, marcas, em algumas situações beliscavam as mulheres é e claro sua pele se irritava. Pronto já era suficiente para mostrar sua ligação com o demônio. Embora a historiografia não comente não duvido em nada que muitas delas foram vítimas de abusos sexuais de todas as ordens. Seus cabelos bonitos e sedosos (não eram muito habituais se cuidar da higiene corporal na idade média) eram arrancados com óleo fervente, seus olhos furados, o nariz amassado com socos, os dentes arrancados, seu corpo mutilado , profanado, queimado e quebrado em várias partes davam a esta mulher um aspecto horripilante. Depois de uns dias nas masmorras estas mulheres confessavam qualquer coisa para se verem livres de seus torturadores, mas isto era impossível. Em alguns casos as torturas deveriam acontecer durante 40 dias e o torturado só poderia morrer no final em praça pública para servir de exemplo aos demais.
“Ao longo dos séculos, as litanias antifeministas recitadas pelos pregadores quase só terão variações na forma. No século XVII, Jean Eudes, célebre missionário do interior, ataca um dia: amazonas do diabo que se armam do pés à cabeça para fazer guerra à castidade, e que por seus cabelos frisados com tanto artifício, por seu refinamento, pela nudez de seus braços, de seus ombros e de seus colos, matam essa princesa celeste nas almas que massacram, também com a sua em primeiro lugar”.
Pois bem estes são alguns dos resultados de minhas pesquisas e conclusões a que cheguei depois de algumas leituras sobre este período chamado de “idade das trevas” mas que ao meu ver carrega uma riqueza de detalhes e situações que nos marcam e envolvem até os dias atuais. Rever este passado é sem sombra de dúvidas enriquecedor e esclarecedor a respeito de mentalidades que fica mais fácil de compreender e até na medida do possível alterar. (Mepa)
Bibliografia
• História do medo no Ocidente 1300-1800 – Jean Delumeau – Companhia das letras
• A história da esposa da virgem Maria a Madonna – o papel da mulher casada dos tempos bíblicos até os dias de hoje – Marilyn Yalom – Ediouro
• Fogo sobre a terra – a mentalidade medieval e o renascimento – William Manchester- Ediouro
• O livro de ouro das ciências ocultas – Magia – alquimia – ocultismo – Friedrich W.Doucet – Ediouro
• Torre de Babel – em busca da história perdida – Juan G.Atienza - Mercuryo
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