Luma Elora Aislin

Luma Elora Aislin
Sabá de Ostara

terça-feira, 6 de julho de 2010

Canção da Bruxa.




Que eu seja como aquela que tece o pano na floresta, profundamente escondida.


Que eu possa fazer o meu trabalho sem interrupção.


Que eu seja uma exilada, se é este o sacrifício.


Que eu conheça a procissão sazonada do meu espírito e do meu corpo, e possa celebrar os quartos em cruz, solstícios e equinócios.


Que cada Lua Cheia me encontre a olhar para cima, nas árvores desenhadas no céu luminoso.


Que eu possa acariciar flores selvagens, cobri-las com as mãos.


Que eu possa libertá-las, sem apanhar nenhuma, para viver em abundância.


Que meus amigos sejam da espécie que ama o silêncio.


Que sejamos inocentes e despretensiosos.


Que eu seja capaz de gratidão.


Que eu saiba ter recebido a alegria, como o leite materno.


Que eu saiba isso como o meu cão, nos ossos e no sangue.


Que eu fale a verdade sobre a alegria e a dor, em canções que soem como aroma do alecrim, como todo dia e na antiguidade, erva forte de cozinha.


Que eu não me incline à auto-integridade e à autopiedade.


Que eu possa me aproximar dos altos trabalhos da terra e dos círculos de pedra, como raposa ou mariposa, e não perturbar o lugar mais que isso.


Que meu olhar seja direto e minha mão firme.


Que minha porta se abra àqueles que habitam fora da riqueza, da fama e do privilégio.


Que os que jamais andaram descalços não encontrem o caminho que chega à minha porta.


Que se percam na jornada labiríntica.


Que eles voltem.


Que eu me sente ao lado do fogo no inverno e veja as achas brilhando para o que vier, e nunca tenha necessidade de advertir ou aconselhar, sem que me peçam.


Que eu possa ter um simples banco de madeira, com verdadeiro regozijo.


Que o lugar onde habito seja como uma floresta.


Que haja caminhos e veredas para as cavernas e poços e árvores e flores, animais e pássaros, todos conhecidos e por mim reverenciados com amor.


Que minha existência mude o mundo não mais nem menos do que o soprar do vento, ou o orgulhoso crescer das árvores. Por isso, eu jogo fora minha roupa.


Que eu possa conservar a fé, sempre.


Que jamais encontre desculpas para o oportunismo.


Que eu saiba que não tenho opção, e assim mesmo escolha como a cantiga é feita, em alegria e com amor.


Que eu faça a mesma escolha todos os dias, e de novo.

Quando falhar, que eu me conceda o perdão.


Que eu dance nua, sem medo de enfrentar meu próprio reflexo.



Poesia extraída do livro: A Bruxa Solitária, Rae Beth.

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